Nuno 'Larau' Soares: Da costa à "Montanha"
Natural de Coimbra, Nuno Soares - mais conhecido como "Larau" -, iniciou-se no mundo da escalada em 1988, no Clube de Campismo e Caravanismo de Coimbra (CCCC). Este grupo, bastante ativo na época, proporcionou-lhe a oportunidade de desenvolver as suas habilidades em escalada clássica, que, segundo o próprio, surgiram de forma natural, tendo em conta a escassez de material especializado na altura.
(Larau e Miguel Grilo a equipar o início da 'A ocasião faz o ladrão')
Larau recorda que a realidade da zona centro só mudou em meados da década de ´90, quando um grupo de escaladores portuenses, composto por Sérgio Martins, Zé Abreu, Martinho Fróis e outros, começou a equipar os primeiros grandes setores na Redinha. Durante este período, os entaladores foram deixados de lado, e o entusiasmo à volta da escalada desportiva na região era evidente. A Redinha foi, durante alguns anos, casa do “Trepa Penedos” - Encontro Nacional de Escalada, que mais tarde migrou para Penacova, quando o potencial da Redinha já tinha sido explorado ao máximo. Muitas das linhas clássicas que hoje conhecemos na Redinha foram equipadas propositadamente para o encontro pela malta que, à data, integrava o CCCC, nomeadamente o Larau, Paulo Santos, João Paulo e Miguel Grilo.
A motivação de Larau não se esgotou em Portugal e levou-o a escalar em Espanha e França, onde descobriu alguns locais míticos, de entre os quais La Pedriza, Gredos, Pirinéus, Picos da Europa e Gorges du Verdon. Era nestas rock trips que aproveitava para comprar material, não só para si, mas também para os fanáticos que ficavam em Portugal e ousavam calçar pés de gato sem experimentar.
Em busca de novos desafios, Larau deixou as falésias de Coimbra para explorar Peniche, onde escalou ao lado do seu amigo, Paulo Roxo. Foi na cidade costeira que Nuno acabou por se fixar. “Fui escalar para Peniche para meter entaladores e acabei lá entalado... casei-me”, graceja.
Após um período de sete anos afastado da escalada, e nunca tendo perdido o bichinho, Nuno retomou a sua prática. Sendo um entusiasta da escalada clássica, orgulha-se de escalar o mesmo grau de dificuldade tanto na escalada desportiva como na clássica, tendo aberto as suas vias em Peniche "de baixo", o que demonstra o seu compromisso com os princípios da escalada tradicional.
A sua trajetória é também marcada pela paixão por ascensões invernais especialmente nos Alpes, destacando-se rotas como a face norte dos Grandes Jorasses e a face norte dos Drus, que exigem uma preparação mental extremamente rigorosa. Segundo Nuno, a chave para superar os desafios de alta montanha é manter a mente clara e focada. “Se estiveres bem mentalmente, o resto sai”, garante.
Além de escalador, Nuno é uma figura de destaque na comunidade de montanhismo em Portugal sendo o fundador da Revista Montanha, uma publicação que, no ano 2000, nasceu da vontade de partilhar as histórias e conquistas da escalada portuguesa. Até então, os escaladores contavam apenas com publicações estrangeiras, como a revista espanhola Desnivel, que não refletia a realidade do montanhismo nacional. A revista foi um projeto ambicioso, inicialmente pensado para ser divulgado em edições anuais, e que em resposta ao desejo dos escaladores nacionais e ao bom feedback recebido, rapidamente se tornou trimestral. Contou com a colaboração e dedicação de nomes como Miguel Grilo, Sérgio Martins, João Paulo Queirós e Oldemiro Lima. No entanto, a falta de financiamento dificultou a continuidade do projeto e o atraso nos pagamentos pelos patrocinadores tornou-o insustentável, acabando mesmo por ser extinto.
Larau admite que é improvável uma reedição da Revista Montanha no futuro, porém, admite que há espaço em Portugal para iniciativas com o mesmo enquadramento em formato digital que sirvam escaladores e montanhistas nacionais.
Atualmente, Nuno está focado no desenvolvimento do novo rocódromo em Peniche, The West. Inspirado pelo crescimento do surf e pela procura por desportos de natureza por parte do público surfista, Larau vê o potencial de Peniche como um centro não só para o surf, mas também para a escalada, oferecendo uma alternativa perfeita nos dias em que as ondas não cooperam ou o tempo não favorece a prática outdoor.
Ao longo da sua vida, Nuno ‘Larau’ Soares tem-se orgulhado de abrir e equipar vias para que os escaladores possam usufruir, mas não deixa de sentir saudades dos tempos em que a adrenalina e os desafios da escalada eram mais intensos. A sua história é um testemunho da paixão, dedicação e espírito pioneiro que tem moldado a escalada em Portugal.
Agradecimentos:
Nuno Larau Soares, pela informação e conteúdo fotográfico dispensado para este artigo.